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Textos críticos

Momentos Intrínsecos

Tudo aquilo que o observador vê numa obra escultórica, com sentimento de beleza, não é o mesmo sentimento do artista que está realizando a obra; o prazer de observar, não é o mesmo da execução; o artista, cabe a ele dar sangue e suor naquilo que faz com beleza.
A obra geométrica de Bayón, abstrata e orgânica, nos causa essa sensação de beleza, através do seu geometrismo coerente e criativo de textura polida. Bayón nos causa uma surpresa a cada obra, pois uma quase se refere a outra, e no intrínseco todas são parte da mesma.
Entre o imaginário criador e a execução de uma obra, existe o desenho, a modelagem e a percepção daquilo que se quer passar para a pedra ou bronze. Esta intimidade é do artista, sendo que nessa feitura a obra já está pronta; mas entre isso, a execução do trabalho na pedra é longa e dolorosa. O Bayón desempenha bem o seu papel.

Alvaro Franklin (escultor) - 2000

 

 


Artistas Catalaes em São Paulo (Illa de Thera)

O escultor luis Bayón Torres nasceu em Barcelona em 1948 mas transladou-se para São Paulo com a familia com a idade de 10 anos.
A sua personalidade artística valorizada por uma sólida e rigida formação acadêmica que também passou pela faculdade de Belas Artes de Barcelona, se desenvolve em umas formas de leveza surpreendente, especialmente em marmores e granito. As formas curvas em suas criações abundam ovais e esferas, triunfam em materiais que perdem toda as sua frieza e dureza para transmitir calidez e sensção de flexibilidade. Bayón trabalha docemente a pedra (tanta e tão diversas como existem no Brasil) como se fosse argila modelada com mãos de água ou de vento. Com aguda sensibilidade de matriz introspectiva.
O escultor Luis Bayón desbasta montanhas de pedra a imagem das serras Monserratinas tanto quanto evoca a redondez dos Paletes de Riera. Uma delicada escultura em forma de pássaro ornamenta entre planta aquática num pequeno tanque artificial, conjunto que me faz recordar a placidez de um jardin ZEN.

Thereza Costa-Gramunt (Jornalista, Historiadora e Crítica de Arte)
(traduzido do L'eco de Sitges - Barcelona, edição de 16 de agosto de 2003)

 


Escultura pode ser também uma marca

Na escultura de Bayón fica evidente o excelente trato que sabe dar a pedra, e como sabe servi-se de sua imaginação para inovar em formas e desenhos.
Conseguindo nos mostrar que pode tirar um universo de idéias e petrifica-las dando-lhes formas, movimento, encaixe e até sensualidade.
O resultado é fruto de sua própria persistência por conseguir curvas que ganham equilibrio e peso, quando ele quer.
Trabalha o material com pleno domínio, aproveitando as próprias veias e insinuando outras e brincando com a curva como quem trabalha sobre papel ou com massas brandas. Tal a perfeição que consegue na pedra.
Sua obra, esteja em repouso ou em pé, possui um equilíbrio que Bayón Torres lhe deu, mostrando-nos que se trata de algo inventado e não devido ao acaso.
Algumas de suas obras nos lembram que a escultura pode ser também um logotipo ou uma marca. Que podem mostrar integração entre elentos diferentes que, no entanto, nos apresentam harmonia. Onde há vários elementos existe essa parte bem ordenada sobre eles.
Seus olhos desconhem limitações para idealizar e sugerir universos.

Mario Garcia-Guillén (Membro da APCA, ABCA e da Associação Internacional da Crítica. É escritor e jornalista) - 2000

 

 


Logolíticos

 

As esculturas de Luis Bayón conseguem ser ao mesmo tempo, monumentais e simples, imponentes, equilibradas e silenciosas.
Descendente de tradição artistíca espanhola, ele próprio um catalão, embora ligado em suas raízes, reconstrói em outro tempo e espaço, um universo de mármores e granitos, polidos, brancos, negros e marrons, uma linguagem abstrata geométrica, ordenada e harmônica, mas revestida de uma inquietude criadora.

Mali Villas-Bôas (Historiadora e Crítica de Arte) - 2002

Práxis do Ofício

A escultura em mármore tem poucos adeptos no Brasil. Ela pede uma dedicação rigorosa e uma aplicação constante. Sua técnica requer vários conhecimentos na escolha do material, no uso das ferramentas e na precisão da execução. Não é permitido errar, porque pode se perder o material e o esforço do trabalho tão penosamente realizado. O meu amigo Bayon levou em consideração estas premissas e decidiu esculpir na verdadeira acepção do termo, criando as peças em mármore primeiro e em madeira posteriormente. Seu trabalho é preciso, rigoroso e responde às questões presentes na arte contemporânea. O uso de contrastes entre dois ou mais elementos, a combinação de diferentes tipos de mármores, o ritmo e a harmonia das suas composições, testemunham o talento e o empenho do artista na procura da sua identidade estilística e na construção duma linguagem plástica própria. Olhando com atenção a produção do artista podemos perceber as principais tendências que orientam seu oficio. Nas suas primeiras obras usa elementos formais redondos recortados por uma peça estreita que serve como contraponto, tanto pelo tamanho como pela coloração mais escura. Da mesma fase temos a escultura. Forma iniciática, uma obra de planos retos de muita força e equilíbrio. Considero essa escultura o ponto alto na solução dos problemas plásticos e estruturais que enfrenta um escultor. Uma outra fase investiga relações e procura soluções entre formas orgânicas utilizando o mármore, mas também a madeira. Visão sinuosa, Vela ao vento, Alpinista e Formação oposta são exemplos esmerados de concepção e execução de obras tridimensionais em mármore. Espaço curvo é uma obra em madeira de singular beleza. Na sua procura para enriquecer e diversificar seus meios de expressão, Bayon experimentou também, e com excelentes resultados, o aço inox e o ferro. Frutos deste seu esforço são as peças Torso particular e Pássaro, entre outras de sua coleção. Bayon reafirma na sua trajetória que a Arte é produto de perspicácia e dedicação, mas acima de tudo de vigilância constante no uso de princípios éticos e espirituais na práxis do seu oficio.

Nicolas Vlavianos (escultor) - 2004

 

 

Conquista do espaço

O diálogo do escultor com a sua arte está marcado pela incessante busca de meios de explorar o espaço, entendo-se este como um universo tridimensional, em que o convite ao público é sempre o de uma leitura atenta, que obrigue cada indivíduo a girar em torno de um pedestal e buscar encantamento em 360º de cada peça.
Não se trata de uma tarefa fácil e nem de uma regra de criação, talvez apenas de um destino, pois o volume dá à escultura a sua base primordial, a fundação de onde é possível construir uma sólida casa plástica, menos afeita a ruir com as intempéries ou as movimentações do terreno.
Nascido em Barcelona, Espanha, em 1948, mudou-se, com os pais, para o Brasil, aos 10 anos, e foi adquirindo, ao longo da carreira ampla vivência artística nos dois países, num processo que resultou no trabalho com diversos materiais, como rocha, metal, ferro, madeira e latão.
Entre os assuntos, surgem elementos mitológicos, alguns egípcios, além de diversas alusões à sexualidade, às vezes com a incorporação de elementos, como um piercing ou um cadeado. No entanto, o trabalho plástico desenvolvido pelo artista permite que a leitura de suas obras não fique restrita à matéria enfocada.
É possível observar desenvoltura como a verticalidade, realizada em nome de uma linguagem plástica que remete aos totens, referência importante quando se pensa em boa parte da escultura contemporânea. A conquista do espaço ganha aí a dimensão simbólica de saber lidar com variados elementos materiais para atingir um outro patamar: o da abstração, que exige, do artista e do público, um encanto com formas e volumes.
Quando as estruturas mentais plásticas são colocadas a serviço de idéias, a escultura cresce em função de uma exploração do que pode e deve ser feito com o aço, o latão, o ferro pintado ou a madeira. Surge assim uma profícua tensão entre o material e a mão de Bayón.
Peças como Acoplamento ou Excêntrica apresentam o que o artista catalão oferece em termos de manter uma visão artística própria, diferenciada, com dinâmica. Isso significa retirar aquilo que cada material tem de melhor, mas sem deixar de respeitá-lo em suas características intrínsecas.
A arte de esculpir carrega em si justamente a ambigüidade de exigir domínio de um suporte que, ao mesmo tempo, não pode ser subjugado à força. Ele precisa caminhar ao lado do artista, numa parceria contínua, que vai se aprofundando ao longo dos anos. Saber quando uma peça pede para ser mexida ou quando ela solicita ser deixada em silêncio constitui um desafio aprendido pela técnica e pela experiência.
Luis Bayón traz em sua escultura a sabedoria do construtor. Domina a composição e sabe como construir os fundamentos de cada um de seus trabalhos. Principalmente naqueles menos figurativos, estabelece-se um processo de diálogo entre as linhas e elementos constitutivos, com o uso de diagonais, num exercício dos mais ricos em termos de conquista do espaço, universo, por essência, de trabalho do escultor em seu afã de representar o mundo e conversar com ele por intermédio dos mais variados materiais.

Oscar D’Ambrosio, jornalista e mestre em Artes Visuais pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), integra a Associação Internacional de Críticos de Artes (AICA-Seção Brasil).

 

O justo equilíbrio entre abstração absoluta e movimento

A abstração absoluta sempre foi algo raro nas artes do século 20. Após 1945, o campo da abstração se expandiu, o que tornou possível um certo número de nuances que, sem dúvida alguma, restabeleceram as relações da abstração com o mundo objetivo.
Luis Bayón, entretanto, se interessa ao mesmo tempo pelos problemas da abstração absoluta e do movimento. Como Calder ou Marta Pan, o escultor catalão – há anos residente no Brasil – apela para a ajuda da natureza, ao vento, aos movimentos da mão.
As formas das obras deste artista são orgânicas e baseiam-se sobre o antigo metier de entalhar, cortar e escavar na madeira. O volume de suas esculturas é sóbrio, com uma tensão fechada da linha e da superfície curva, que nascem do conceito de função do movimento.
Acreditamos que não se trata tão-somente de comunicar um movimento a uma forma, mas de liberar o que deve ser a forma de representação de um movimento.
A aparente simplicidade de sua obra depende do entrosamento de suas partes, de tal maneira que elas possam se unir numa forma fechada ou coexistir numa relação modificada, onde as tensões permanecem direcionadas umas às outras, se aproximando ou se afastando como numa sensualidade sublimada.
Na escultura em mármore branco Vela ao Vento, doada ao Museu de Arte do Parlamento de São Paulo, Luis Bayón evidencia no seu estilo uma nobreza de dimensão, criando um elo admirável entre o ser humano e a arquitetura, entre o homem e a paisagem.

Emanuel von Lauenstein Massarani ( Crítico de Arte e Superintendente do Patrimônio Cultural Museu de Arte do Parlamento de São Paulo)

 

Presenças sensíveis de um universo híbrido

As esculturas de Luis Bayón revelam, à primeira vista, simpatia e intimidade na escolha dos materiais para sua realização e uma indiscutível competência, rigor e objetividade no tratamento da matéria com prática de sua arte.
Antes do modelado e de efeitos texturais de superfície, o que nos surpreende é a presença eloquente de um desenho formador - melhor dizendo - a linha como elemento determinante de planos e volumes claramente dispostos ou sugeridos que se deslocam em ambientes assim articulados no espaço e no tempo. Linha reveladora de uma geometria sensível disposta à invenção, às experimentações e as sugestões de movimento e de uma volumetria, muitas vezes, virtual.
Linha ondulante em fragmentos elípticos ou da hipérbole. Presente no corte e recorte do ferro em ângulos retos, agudos ou diversos. Também percebida na cor eventual sobreposta à matéria natural e resistente. Ou ainda na reinvenção de outras figuras construções ortogonais encimadas por composições de carater geométrico ou orgânico, presenças sensíveis de um universo híbrido, plástico e gráfico a um só tempo.
Decorrentes de uma poética da concisão e sobriedade, estas expressões formais aludem à existência de um reôndito a ser considerado no gesto e na forma e nos estimulam à reflexão dos significados destes muitos sinais.

Evandro Carlos Jardim ( Artista Plástico)

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